MACHO,
MUITO MACHO!
No Bar do Manéu, essa história é sempre
lembrada quando algum valentão quer se alterar e partir pros
conformes. “Não vem não, Mangabeira”, alguém nessas ocasiões
sempre grita lá fundo do bar. E a gargalhada é geral.
Mangabeira era um sujeito atarracado e aparentando
menos que os seus 62 anos, apesar das rugas que deixavam seu rosto
parecendo um mapa fluvial...
Era forte como um touro. Queixo quadrado, pescoço
curto, usava há anos uma peruca muito mal-ajambrada, para esconder
uma calvície avançada.
Era do tipo que falava muito alto. E sempre
contando vantagem. Com seu rosto avermelhado, proclamava em alto e
bom som: “Eu sou é macho, muito macho!”.
A turma tinha que ficar horas ouvindo, incrédula,
suas incríveis estórias de “coragem e heroísmo”.
Batendo na mesa e no peito, vociferava: “Eu sou
um cabra muito macho! Eu já dei um tapa na cara do Gadafi!”.
Moreira, um gozador de primeira, cochichava para quem estivesse ao
seu lado: “Daqui a pouco ele vai dizer que comeu o cu do
Lampião...”.
Um dia, chegou no bar exibindo um charuto cubano
no canto da boca e relatou, em pormenores, como demoliu todo o
exército de Batista, ajudando, assim, Fidel Castro tomar o controle
da ilha.
Mangabeira não tinha limites.
Já tinha corrido em zigue-zague em campos minados
de bombas em Angola, andado descalço em brasas vivas, passado a mão
na bunda de Churchill.
A melhor delas era como tinha tirado com um tapa o
binóculo do Hummel, a raposa do deserto, durante a segunda guerra
mundial. Essa era demais! A turma não aguentava e sempre pedia
detalhes, para aumentar o delírio do Manga. Ele chegava a se
levantar e reproduzir a façanha em detalhes.
Outra muito boa era a da figuração que, segundo
ele, tinha feito no filme Spartacus. “Aí, eu virei pro Kirk
Douglas e falei: O papel era pra mim, mas vou te dar uma chance”.
Mas a verdade é que todo mundo no Bar do Manéu
já estava acostumado com aquela presepada.
Se tivesse vivido em outra época, provavelmente
teria afirmado que foi ele que tocou fogo em Roma...
Mas naquele dia de finados, a marra do Mangabeira
ficou totalmente sob suspeita.
Clodovino chegou esbaforido e falou pro pessoal
que o Manga estava em apuros. A moçada foi correndo pro prédio
dele, pensando no pior. As versões eram várias. Como, em se
tratando de Mangabeira ninguém botava fé em nenhuma delas, foi todo
mundo lá conferir.
Bombeiros, ambulância, um monte de gente nas
sacadas nos prédios vizinhos.
A gente ali, sem poder acreditar no que estava
vendo.
Mangabeira, o machão, com uma garrafa de
champanhe entalada no rabo!
Não podia ser verdade! A turma toda do Bar do
Manéu assistindo incrédula aos seis bombeiros levando o Manga, o
nosso macho Manga, com uma garrafa totalmente atochada no furico.
Na porta do prédio dele, uma bicha descabelada e
totalmente desconsolada tentava, no meio da multidão, se explicar
para a polícia: “Seu PM, a gente já tem um caso secreto há dez
anos. Mas essa foi a primeira vez que ele pediu essa extravagância.
Eu não pude fazer nada. Foi ele que insistiu. Eu juro...”.
A gente ficou embasbacado, com o queixo caído,
olhando um para cara do outro, quando o Moreira salvou a noite
dizendo: “Pessoal, é o seguinte, eu sempre desconfiei do
Mangabeira, mas alguém pode me explicar por que todo travesti tem a
voz do pato Donald...?”
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