quarta-feira, 11 de abril de 2012



MACHO, MUITO MACHO!


No Bar do Manéu, essa história é sempre lembrada quando algum valentão quer se alterar e partir pros conformes. “Não vem não, Mangabeira”, alguém nessas ocasiões sempre grita lá fundo do bar. E a gargalhada é geral.

Mangabeira era um sujeito atarracado e aparentando menos que os seus 62 anos, apesar das rugas que deixavam seu rosto parecendo um mapa fluvial...
Era forte como um touro. Queixo quadrado, pescoço curto, usava há anos uma peruca muito mal-ajambrada, para esconder uma calvície avançada.

Era do tipo que falava muito alto. E sempre contando vantagem. Com seu rosto avermelhado, proclamava em alto e bom som: “Eu sou é macho, muito macho!”.
A turma tinha que ficar horas ouvindo, incrédula, suas incríveis estórias de “coragem e heroísmo”.
Batendo na mesa e no peito, vociferava: “Eu sou um cabra muito macho! Eu já dei um tapa na cara do Gadafi!”. Moreira, um gozador de primeira, cochichava para quem estivesse ao seu lado: “Daqui a pouco ele vai dizer que comeu o cu do Lampião...”.

Um dia, chegou no bar exibindo um charuto cubano no canto da boca e relatou, em pormenores, como demoliu todo o exército de Batista, ajudando, assim, Fidel Castro tomar o controle da ilha.

Mangabeira não tinha limites.
Já tinha corrido em zigue-zague em campos minados de bombas em Angola, andado descalço em brasas vivas, passado a mão na bunda de Churchill.
A melhor delas era como tinha tirado com um tapa o binóculo do Hummel, a raposa do deserto, durante a segunda guerra mundial. Essa era demais! A turma não aguentava e sempre pedia detalhes, para aumentar o delírio do Manga. Ele chegava a se levantar e reproduzir a façanha em detalhes.

Outra muito boa era a da figuração que, segundo ele, tinha feito no filme Spartacus. “Aí, eu virei pro Kirk Douglas e falei: O papel era pra mim, mas vou te dar uma chance”.
Mas a verdade é que todo mundo no Bar do Manéu já estava acostumado com aquela presepada.
Se tivesse vivido em outra época, provavelmente teria afirmado que foi ele que tocou fogo em Roma...

Mas naquele dia de finados, a marra do Mangabeira ficou totalmente sob suspeita.
Clodovino chegou esbaforido e falou pro pessoal que o Manga estava em apuros. A moçada foi correndo pro prédio dele, pensando no pior. As versões eram várias. Como, em se tratando de Mangabeira ninguém botava fé em nenhuma delas, foi todo mundo lá conferir.
Bombeiros, ambulância, um monte de gente nas sacadas nos prédios vizinhos.

A gente ali, sem poder acreditar no que estava vendo.
Mangabeira, o machão, com uma garrafa de champanhe entalada no rabo!
Não podia ser verdade! A turma toda do Bar do Manéu assistindo incrédula aos seis bombeiros levando o Manga, o nosso macho Manga, com uma garrafa totalmente atochada no furico.
Na porta do prédio dele, uma bicha descabelada e totalmente desconsolada tentava, no meio da multidão, se explicar para a polícia: “Seu PM, a gente já tem um caso secreto há dez anos. Mas essa foi a primeira vez que ele pediu essa extravagância. Eu não pude fazer nada. Foi ele que insistiu. Eu juro...”.

A gente ficou embasbacado, com o queixo caído, olhando um para cara do outro, quando o Moreira salvou a noite dizendo: “Pessoal, é o seguinte, eu sempre desconfiei do Mangabeira, mas alguém pode me explicar por que todo travesti tem a voz do pato Donald...?”


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