NAQUELA TARDE DE
VERÃO EM IPANEMA
Às
vezes fico tomando uma cachacinha no Bar do Manéu e deixo a mente
vagar por aí. Dessa vez ela rumou para os anos 60.
Era
uma tarde ensolarada no Rio de Janeiro. Soprava uma brisa que
acariciava, um cheirinho delicioso de maresia. Devia estar fazendo
uns 30º mas naquela época ainda tínhamos camada de ozônio,
portanto, sem protetor solar. Nessa tarde as ondas estavam ótimas e
peguei vários “jacarés”. Estamos em 1962. Ipanema.
Saí
da praia e caminhei pela Rua Montenegro,
chegando ao bar Veloso. Sentei numa mesa com uns amigos. Pedi uma
cachaça envelhecida em jequitibá e uma água com gás. Meu amigo
que sentava à minha esquerda e tomava uísque, disse: Aroldinho,
você tá certo. A gente deve valorizar nossas coisinhas. O outro
amigo à minha direita deu um sorriso. A menina sentada à minha
frente fumava distraída e o garçom colocava mais uma pedrinha de
gelinho no uisquinho
do meu amiguinho.
Entra
uma menina de maiô de duas peças. Não se esqueçam:
estamos em 62.
Compra
cigarros pra mãe dela –
isso soubemos depois -
e vai embora sem olhar pros lados. Nem era tão bonita assim. Tá
bom, bonitinha. Mas meu amigo do uísque acha todas as mulheres do
mundo lindas, sempre pedindo perdão às feias... Ele dizia: Que
coisinha mais lindinha...
O
meu amigo da
direita, embora estivesse ocupado com o cabelo que lhe caía
nos olhos, teve tempo de acrescentar: Uma
graça.
Ciumenta,
a amiga que sentava à
nossa frente fez uma cara feia e ameaçou ir embora. Eu, impedindo,
segurei na sua mão e disse: Não
liga não. Ela só vem por aqui e passa. Ou compra cigarros pra sua
mãe ou vai na costureira.
A
gente estava sentado perto do banheiro, numa mesinha discreta, com o
caixa bem próximo.
De
repente, volta a menina, aquela do maiô de duas peças e vai direto
ao caixa. Tinha esquecido o troco: 5.000 cruzeiros.
Era
uma nota ainda nova, pois tinha sido lançada em 1961 pela Casa da
Moeda do Brasil. Era conhecida como a nota do índio por trazer
estampado o rosto de um primeiro habitante de nossas terras. Só que
com a inflação ela pulou de 5 para 5.000 cruzeiros.
Ela
embolsou a grana e foi embora. Mas conseguiu chamar de novo nossa
atenção.
Meu
amigo da esquerda falou: Que coisa mais linda... O amigo da direita:
Mais cheia de graça... E eu completei: É ela menina que vem e que
passa...
Nesse
momento, a
menina que sentava à nossa frente apagou o cigarro, deu um gole no
chope, tirou a bolsa do encosto da cadeira e falou: Ah, por que tudo
é tão triste...?
Levantou-se
e foi embora.
O
resto? É história.
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