sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012


NAQUELA TARDE DE VERÃO EM IPANEMA

Às vezes fico tomando uma cachacinha no Bar do Manéu e deixo a mente vagar por aí. Dessa vez ela rumou para os anos 60.

Era uma tarde ensolarada no Rio de Janeiro. Soprava uma brisa que acariciava, um cheirinho delicioso de maresia. Devia estar fazendo uns 30º mas naquela época ainda tínhamos camada de ozônio, portanto, sem protetor solar. Nessa tarde as ondas estavam ótimas e peguei vários “jacarés”. Estamos em 1962. Ipanema.

Saí da praia e caminhei pela Rua Montenegro, chegando ao bar Veloso. Sentei numa mesa com uns amigos. Pedi uma cachaça envelhecida em jequitibá e uma água com gás. Meu amigo que sentava à minha esquerda e tomava uísque, disse: Aroldinho, você tá certo. A gente deve valorizar nossas coisinhas. O outro amigo à minha direita deu um sorriso. A menina sentada à minha frente fumava distraída e o garçom colocava mais uma pedrinha de gelinho no uisquinho do meu amiguinho.

Entra uma menina de maiô de duas peças. Não se esqueçam: estamos em 62.
Compra cigarros pra mãe dela isso soubemos depois - e vai embora sem olhar pros lados. Nem era tão bonita assim. Tá bom, bonitinha. Mas meu amigo do uísque acha todas as mulheres do mundo lindas, sempre pedindo perdão às feias... Ele dizia: Que coisinha mais lindinha...
O meu amigo da direita, embora estivesse ocupado com o cabelo que lhe caía nos olhos, teve tempo de acrescentar: Uma graça.

Ciumenta, a amiga que sentava à nossa frente fez uma cara feia e ameaçou ir embora. Eu, impedindo, segurei na sua mão e disse: Não liga não. Ela só vem por aqui e passa. Ou compra cigarros pra sua mãe ou vai na costureira.

A gente estava sentado perto do banheiro, numa mesinha discreta, com o caixa bem próximo.

De repente, volta a menina, aquela do maiô de duas peças e vai direto ao caixa. Tinha esquecido o troco: 5.000 cruzeiros.
Era uma nota ainda nova, pois tinha sido lançada em 1961 pela Casa da Moeda do Brasil. Era conhecida como a nota do índio por trazer estampado o rosto de um primeiro habitante de nossas terras. Só que com a inflação ela pulou de 5 para 5.000 cruzeiros.

Ela embolsou a grana e foi embora. Mas conseguiu chamar de novo nossa atenção.
Meu amigo da esquerda falou: Que coisa mais linda... O amigo da direita: Mais cheia de graça... E eu completei: É ela menina que vem e que passa...
Nesse momento, a menina que sentava à nossa frente apagou o cigarro, deu um gole no chope, tirou a bolsa do encosto da cadeira e falou: Ah, por que tudo é tão triste...?
Levantou-se e foi embora.

O resto? É história.

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