LAERTE
E O WC
Em
mais um final de tarde chuvoso no Rio – que verão mais
esquisito... - Demerval chega no Bar do
Manéu e,
com sua voz de barítono profundo e sotaque característico, declara:
Ô xente,
tá tudo mudado!
E
levanta pra todo mundo ler a primeira página do jornal do dia. Não
sei se era O Dia ou A Noite...
Eulália,
com olhar triste, comenta: Nossa, que tragédia... Teve
sobreviventes?
E
Demerval, que não é nada sentimental, mandou na lata: Que
porra de desastre! Eu tô
falando disso aqui,
ó! E apontou pruma notícia com direito a foto e tudo.
Vamos
explicar. Demerval é um baiano arretado do Recôncavo que, segundo a
lenda, seu avô
comandava a volante que matou Lampião.
Se o cara usa camisa vermelha,
pra ele é viado. Mulher sozinha em bar é prostituta. E homem não
beija outro nem em despedida de velório, mesmo que a outra parte
esteja esticada e durinha no caixão.
Ele
seria um homofóbico grau nove.
Só não é grau dez porque,
falam as más línguas,
num dia de bebedeira incondicional, Demerval confessou que já tirou
as gordurinhas de umas rodelas de linguiça com garfo e faca. E
nesse dia, aos prantos de bêbado, acrescentou: Isso é coisa de
boiola...
Muito
bem. Vamos em frente. A notícia que ele trazia era sobre a
reivindicação do cartunista Laerte em
querer frequentar os banheiros
femininos.
Laerte,
desenhista da safra de Angeli e Glauco e muitos outros, criador de
personagens inesquecíveis como Os
Piratas do Tietê,
resolveu se vestir de mulher e assumir essa postura. São os chamados
crossdresser,
mas Laerte,
nacionalista,
se diz travesti mesmo.
Continuando.
Demerval deu uma bolacha no jornal e bradou: Pode uma coisa dessa?
A
discussão levantou labaredas de paixão.
Moreirinha
questionou: Ele
é operado? Jogou fora o bilau? Diante da negativa,
ele mandou: Se
é assim, tem que valer pra todo mundo! Banheiro feminino tem que ser
liberado pra qualquer homem!
Público
ou privada? Perguntou o irônico Robertinho, arrancando risos e
assovios.
Antenor,
com olhar de mormaço, abraçado ao seu violão e cigarrinho no canto
da boca, já
se imaginou num banheiro feminino jogando um “psilone” em algum
ouvidinho desprevenido: Não
liga não meu amor, eu só tô
aqui pra lavar as mãos pra tirar o resto de perfume da minha
ex-amada. Tens alguma coisa pra fazer hoje à noite?
Moreirinha,
com sua colocação, jogou
gasolina na fogueira. E tome falatório.
Magnólia,
uma manicure do Irajá, sapecou: Ih, quem vai gostar é a minha
colega lá do salão. Ela era Paulão, sabe, mas depois que colocou
bundão, uns peitões e fez alisamento...hummm...a metida só quer
ser chamada de Priscila Gabrielle.
Manéu,
solta um rabo de galo pra comemorar,
pediu Zé Mão no Chão e o português retrucou: Sai fora, ô gajo,
aqui o galo não solta o rabo,
não! Gargalhada geral.
Jaudério,
o massagista que nas horas sem cliente é assistente de um
consultório dentário em Del Castilho, não aguentava mais de tanto
rir daquela história toda e sempre pontuava cada colocação com um:
Assim não dá...assim não dá...vocês querem me matar de tanto
rir.
No
auge da discussão, Horácio, que sabe dar nó de gravata porque tem
um namorado executivo, levantou e falou com o dedo em riste: E daí?
E daí?
Antenor,
com seu violão de sete cordas
afinado em lá e com a sua voz de caverna, não perdeu a deixa e já
encaixou um famoso samba-canção do Miguel Gustavo:
Proibiram
que eu te amasse
Proibiram
que eu te visse
Proibiram
que eu saísse
Ou
perguntasse a alguém por ti
Proíbam
muito mais
Preguem
avisos
Fechem
portas
Ponham
guizos
Nosso
amor perguntará:
E
daí, e daí?
O
bar todo,
brindando,
terminou com um tremendo lalari-larará.
Mtooo bom pai, parabééns pelo blog, essa é mto boa!!!
ResponderExcluirVALEU, FILHA!!!!
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