segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012


LAERTE E O WC


Em mais um final de tarde chuvoso no Rio – que verão mais esquisito... - Demerval chega no Bar do Manéu e, com sua voz de barítono profundo e sotaque característico, declara: Ô xente, tá tudo mudado!
E levanta pra todo mundo ler a primeira página do jornal do dia. Não sei se era O Dia ou A Noite...

Eulália, com olhar triste, comenta: Nossa, que tragédia... Teve sobreviventes?
E Demerval, que não é nada sentimental, mandou na lata: Que porra de desastre! Eu tô falando disso aqui, ó! E apontou pruma notícia com direito a foto e tudo.

Vamos explicar. Demerval é um baiano arretado do Recôncavo que, segundo a lenda, seu avô comandava a volante que matou Lampião. Se o cara usa camisa vermelha, pra ele é viado. Mulher sozinha em bar é prostituta. E homem não beija outro nem em despedida de velório, mesmo que a outra parte esteja esticada e durinha no caixão.
Ele seria um homofóbico grau nove. Só não é grau dez porque, falam as más línguas, num dia de bebedeira incondicional, Demerval confessou que já tirou as gordurinhas de umas rodelas de linguiça com garfo e faca. E nesse dia, aos prantos de bêbado, acrescentou: Isso é coisa de boiola...

Muito bem. Vamos em frente. A notícia que ele trazia era sobre a reivindicação do cartunista Laerte em querer frequentar os banheiros femininos.
Laerte, desenhista da safra de Angeli e Glauco e muitos outros, criador de personagens inesquecíveis como Os Piratas do Tietê, resolveu se vestir de mulher e assumir essa postura. São os chamados crossdresser, mas Laerte, nacionalista, se diz travesti mesmo.

Continuando. Demerval deu uma bolacha no jornal e bradou: Pode uma coisa dessa?

A discussão levantou labaredas de paixão.

Moreirinha questionou: Ele é operado? Jogou fora o bilau? Diante da negativa, ele mandou: Se é assim, tem que valer pra todo mundo! Banheiro feminino tem que ser liberado pra qualquer homem!

Público ou privada? Perguntou o irônico Robertinho, arrancando risos e assovios.

Antenor, com olhar de mormaço, abraçado ao seu violão e cigarrinho no canto da boca, já se imaginou num banheiro feminino jogando um “psilone” em algum ouvidinho desprevenido: Não liga não meu amor, eu só tô aqui pra lavar as mãos pra tirar o resto de perfume da minha ex-amada. Tens alguma coisa pra fazer hoje à noite?

Moreirinha, com sua colocação, jogou gasolina na fogueira. E tome falatório.

Magnólia, uma manicure do Irajá, sapecou: Ih, quem vai gostar é a minha colega lá do salão. Ela era Paulão, sabe, mas depois que colocou bundão, uns peitões e fez alisamento...hummm...a metida só quer ser chamada de Priscila Gabrielle.

Manéu, solta um rabo de galo pra comemorar, pediu Zé Mão no Chão e o português retrucou: Sai fora, ô gajo, aqui o galo não solta o rabo, não! Gargalhada geral.

Jaudério, o massagista que nas horas sem cliente é assistente de um consultório dentário em Del Castilho, não aguentava mais de tanto rir daquela história toda e sempre pontuava cada colocação com um: Assim não dá...assim não dá...vocês querem me matar de tanto rir.

No auge da discussão, Horácio, que sabe dar nó de gravata porque tem um namorado executivo, levantou e falou com o dedo em riste: E daí? E daí?

Antenor, com seu violão de sete cordas afinado em lá e com a sua voz de caverna, não perdeu a deixa e já encaixou um famoso samba-canção do Miguel Gustavo:

Proibiram que eu te amasse
Proibiram que eu te visse
Proibiram que eu saísse
Ou perguntasse a alguém por ti

Proíbam muito mais
Preguem avisos
Fechem portas
Ponham guizos
Nosso amor perguntará:
E daí, e daí?

O bar todo, brindando, terminou com um tremendo lalari-larará.



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