quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012


É CARNAVAL!


Hoje, quinta-feira, começa oficialmente o Carnaval no Bar do Manéu. Baile à fantasia que antecede o desfile pelo centro da cidade, como rege o regulamento do bloco Corno Sois Tu, que sai do bar pontualmente a qualquer hora...

A banda aos poucos vai se acomodando e Firmino, o maestro, já enxugou cinco cervas e perdeu a baqueta. Mas pra alívio de todos os músicos, ela, a baqueta, tinha rolado e estacionado bem no pé direito de Paulo Ventura, antigo zagueiro do Bangu que encurtou uma promissora carreira por conta de um menisco safado. Mas a baqueta parou na perna boa e o ex-craque teve tempo de mostrar a sua classe. Pisou numa das extremidades da bichinha, levantou com a parte externa do calcanhar e, num salamaleque, entregou de volta a Firmino seu instrumento de trabalho.
Recebeu de volta um beijo de Mirtinha.

Mirtinha, idade ignorada, lembra um samba canção de Nei Lopes que tem um pedacinho que diz: “Era um vulcão, um pedação de mau caminho, tudo isso embrulhadinho num rostinho angelical...” Narizinho arrebitado, sardas no rosto e no corpinho mignon que Moreira, o gozador, sempre lembra e comenta: Ô, Mirtinha, quando você era criança tomava sol de peneira?

Ela, de fantasia de cigana incorporada, lê o “futuro” de Robertinho num baralho enrugado, esquecido e encontrado no Bar do Manéu: Vejo uma reviravolta na sua vida...Você vai finalmente encontrar o amor da sua vida...Mirtinha esticou o “or” de amor até perder o fôlego. Robertinho, com olhar sacana, manda um beijinho de volta, juntando os lábios como o Patolino. Lembra do Patolino, amigo do Pernalonga? Pois é.

Eis que surge Napoleão, com toda a sua pompa, que sobe numa cadeira e anuncia:
“Eu fugi do exílio que me foi imposto na ilha de Elba, fugi dos navios ingleses com seus canhões apontados pro meu peito, com um exército mínimo marchei sobre Paris, nos 100 dias que se seguiram governei a França e agora desembarco na Praça Mauá para o júbilo de vocês!”
Gritos e assovios correm pelo bar e um coro afinado evoca: Viva Napoleão, o rei do sertão!
Napoleão é o Sassá, o erudito. Aquele que sabe tudo. Enverga um uniforme, meio desbotado é verdade, mas com altivez e galhardia, interpreta bem o general francês.

Manéu dos Tremoços, dono do bar e presidente emérito (ou seria honorário?) do bloco Corno Sois Tu, aprecia aquela fuzarca com seu tradicional pano de prato num dos ombros e lápis na outra orelha. Orelha esquerda de quem vem e direita de quem vai...

O pessoal, na maior euforia e excitação, chega com suas fantasias e se confraterniza da maneira mais improvável: Árabes com judeus. Piratas e colombinas. Políticos com polícia. Rubro-negros e vascaínos.

Moreirinha se fantasiou de povo com aquele tradicional nariz de palhaço. Juvenal está fantasiado de senador corrupto com dinheiro saindo de uma pasta 007 que ele carrega embaixo do braço. Os dois, abraçados, entoam sem parar como um mantra: O povo vencido, jamais será unido! O povo vencido, jamais será unido!

Malaquias, o melhor garçom do Rio de Janeiro, se desdobra com os outros gravatinhas-borboleta para atender a todos. Sai um virado! Um escondidinho pra mesa quatro! Quatro chopes preto pro balcão! Uma roupa-velha no capricho! Acelera, Morais!
Coitado...Morais, na cozinha, sua mais que tampa de marmita e se vira ao avesso pra dar conta do recado.

Horácio, aquele que sabe dar nó de gravata porque tem um namorado executivo, que veio fantasiado de Nureyev, com direito a sapatilha e tudo mais, dá piruetas e grand jeté pelo salão.

Mariana Só Toma Chope, travestida de Steve Jobs, confere e-mails no seu celular, enquanto...toma chope.

Zé Mão no Chão ensaia um bailado digno de um mestre-sala, jogando charme para Madame.
Madame...Ex-cafetina da antiga zona do meretrício da Presidente Vargas, na época das francesas e polacas, hoje beirando oitenta pra lá, franze o nariz fazendo charminho e dá um tapa nos beiços com um Drury´s dose dupla.

Com o Bar do Manéu lotadaço, a banda do Firmino afinadíssima na percussão e tinindo nos metais, ataca: “Esse ano não vai ser igual aquele que passou...”.

Magnólia, a manicure mais solicitada do Irajá, fantasiada de esperança e reforçando a mensagem, fala baixinho: Se Deus quiser...

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