É CARNAVAL!
Hoje, quinta-feira,
começa oficialmente o Carnaval no Bar do Manéu. Baile à fantasia
que antecede o desfile pelo centro da cidade, como rege o regulamento
do bloco Corno Sois Tu, que sai do bar pontualmente a qualquer
hora...
A banda aos poucos vai
se acomodando e Firmino, o maestro, já enxugou cinco cervas e perdeu
a baqueta. Mas pra alívio de todos os músicos, ela, a baqueta,
tinha rolado e estacionado bem no pé direito de Paulo Ventura,
antigo zagueiro do Bangu que encurtou uma promissora carreira por
conta de um menisco safado. Mas a baqueta parou na perna boa e o
ex-craque teve tempo de mostrar a sua classe. Pisou numa das
extremidades da bichinha, levantou com a parte externa do calcanhar
e, num salamaleque, entregou de volta a Firmino seu instrumento de
trabalho.
Recebeu de volta um
beijo de Mirtinha.
Mirtinha, idade
ignorada, lembra um samba canção de Nei Lopes que tem um pedacinho
que diz: “Era um vulcão, um pedação de mau caminho, tudo isso
embrulhadinho num rostinho angelical...” Narizinho arrebitado,
sardas no rosto e no corpinho mignon
que Moreira, o gozador, sempre lembra e comenta: Ô, Mirtinha,
quando você era criança tomava sol de peneira?
Ela, de fantasia de
cigana incorporada, lê o “futuro” de Robertinho num baralho
enrugado, esquecido e encontrado no Bar do Manéu: Vejo uma
reviravolta na sua vida...Você vai finalmente encontrar o amor da
sua vida...Mirtinha esticou o “or” de amor até perder o fôlego.
Robertinho, com olhar sacana, manda um beijinho de volta, juntando os
lábios como o Patolino. Lembra do Patolino, amigo do Pernalonga?
Pois é.
Eis que surge Napoleão,
com toda a sua pompa, que sobe numa cadeira e anuncia:
“Eu fugi do exílio
que me foi imposto na ilha de Elba, fugi dos navios ingleses com seus
canhões apontados pro meu peito, com um exército mínimo marchei
sobre Paris, nos 100 dias que se seguiram governei a França e agora
desembarco na Praça Mauá para o júbilo de vocês!”
Gritos e assovios
correm pelo bar e um coro afinado evoca: Viva Napoleão, o rei do
sertão!
Napoleão é o Sassá,
o erudito. Aquele que sabe tudo. Enverga um uniforme, meio desbotado
é verdade, mas com altivez e galhardia, interpreta bem o general
francês.
Manéu dos Tremoços,
dono do bar e presidente emérito (ou seria honorário?) do bloco
Corno Sois Tu, aprecia aquela fuzarca com seu tradicional pano de
prato num dos ombros e lápis na outra orelha. Orelha esquerda de
quem vem e direita de quem vai...
O pessoal, na maior
euforia e excitação, chega com suas fantasias e se confraterniza da
maneira mais improvável: Árabes com judeus. Piratas e colombinas.
Políticos com polícia. Rubro-negros e vascaínos.
Moreirinha se fantasiou
de povo com aquele tradicional nariz de palhaço. Juvenal está
fantasiado de senador corrupto com dinheiro saindo de uma pasta 007
que ele carrega embaixo do braço. Os dois, abraçados, entoam sem
parar como um mantra: O povo vencido, jamais será unido! O povo
vencido, jamais será unido!
Malaquias, o melhor
garçom do Rio de Janeiro, se desdobra com os outros
gravatinhas-borboleta para atender a todos. Sai um virado! Um
escondidinho pra mesa quatro! Quatro chopes preto pro balcão! Uma
roupa-velha no capricho! Acelera, Morais!
Coitado...Morais, na
cozinha, sua mais que tampa de marmita e se vira ao avesso pra dar
conta do recado.
Horácio, aquele que
sabe dar nó de gravata porque tem um namorado executivo, que veio
fantasiado de Nureyev, com direito a sapatilha e tudo mais, dá
piruetas e grand jeté pelo salão.
Mariana Só Toma Chope,
travestida de Steve Jobs, confere e-mails no seu celular,
enquanto...toma chope.
Zé Mão no Chão
ensaia um bailado digno de um mestre-sala, jogando charme para
Madame.
Madame...Ex-cafetina da
antiga zona do meretrício da Presidente Vargas, na época das
francesas e polacas, hoje beirando oitenta pra lá, franze o nariz
fazendo charminho e dá um tapa nos beiços com um Drury´s dose
dupla.
Com o Bar do Manéu
lotadaço, a banda do Firmino afinadíssima na percussão e tinindo
nos metais, ataca: “Esse ano não vai ser igual aquele que
passou...”.
Magnólia, a manicure
mais solicitada do Irajá, fantasiada de esperança e reforçando a
mensagem, fala baixinho: Se Deus quiser...
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